Quarentena aumenta a necessidade de tecnologia
Reuniões de trabalho, aulas, contato com a família, entretenimento: a tecnologia se tornou ainda mais essencial durante a pandemia; porém, para parte da população, o acesso ainda é precário.
Como trabalhar em home office ou possibilitar que crianças e adolescentes acompanhem o conteúdo escolar com acesso restrito à internet? De que forma manter contato com parentes, sem colocá-los em risco, durante a quarentena? Nesse período, a dependência da tecnologia se tornou ainda maior.
Serviços de streaming são cada vez mais utilizados para entretenimento, assim como recursos como videochamadas, lives ou compras em e-commerces, que cresceram de maneira significativa.
“A saúde mental é um dos problemas a serem enfrentados até o fim dessa quarentena. É esperado que as pessoas consumam mais internet nesse tempo, pois, além de estarem ociosas, estão presas dentro de casa, tendo somente a rede como recurso para contato com o mundo externo”, observou Thiago Porto, pesquisador da PROTESTE.
Segundo ele, é muito importante que as pessoas não deixem de se comunicar com os seus amigos e familiares no momento da pandemia. “Uma maneira de fazer isso com segurança é usando os diversos aplicativos de videochamada existentes, por exemplo”, destacou.
Ajustes para não sobrecarregar a internet
De fato, a tecnologia é uma grande aliada nesse momento, seja para se comunicar com outras pessoas, seja para trabalho ou estudo, além de entretenimento. Exemplo disso são as lives de artistas que se popularizaram durante a quarentena ou o crescimento de serviços de streaming, como a Netflix e Amazon.
Sua internet parece mais lenta com tanta demanda? Veja se a operadora está cumprindo o contrato!
Tais serviços estão sendo tão demandados que as empresas precisaram reduzir a qualidade dos vídeos para não sobrecarregar a internet. No caso da Netflix,a resolução da imagem não foi reduzida, mas sim a taxa de dados, diminuindo o tráfego em 25%.
Já os canais da Globo (Globoplay, GShow, Globoesporte e Globosat) tiveram as resoluções mais altas (Full HD e 4K) suprimidas, com economia de 52% dos dados. De acordo com a empresa, somente usuários com telas maiores do que 65 polegadas conseguem perceber a diferença de qualidade.
Necessidade da tecnologia na quarentena é cada vez maior, mas parte da população não tem acesso
Uma análise recente publicada pelo jornal New York Times mostrou que, entre o final de fevereiro e o dia 24 de março, quando as medidas de quarentena já haviam sido adotadas nos EUA, houve crescimento expressivo do uso de Facebook (27%), Netflix (16%) e YouTube (15,3%). Além disso, outras ferramentas para realização de reuniões ou chamadas de vídeo também tiveram aumento de uso.
No Brasil, de acordo com Thiago, os dados são semelhantes. No entanto, há outras dificuldades que ainda precisam ser contornadas, uma vez que em boa parte dos domicílios o acesso à internet ainda ocorre por meio de dados de operadoras celulares — isso quando existe acesso.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, divulgada em abril de 2020, cerca de 48 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à Internet. Os dados são os mais recentes, embora tenham sido coletados nos últimos três meses de 2018. Na ocasião, de acordo com o levantamento, já havia sido observada uma ampliação do acesso em relação ao ano anterior.
Acesso restrito aumenta a desigualdade
No entanto, para parte da população, especialmente entre as classes D e E, o acesso à internet só é feito via celular, com pacotes de dados limitados, o que dificulta o uso de streaming, videoaulas ou downloads. Assim, embora a dependência da tecnologia na quarentena seja cada vez maior, muitos brasileiros ainda enfrentam dificuldades, o que aumenta a desigualdade social.
Um exemplo claro disso foi a grande quantidade de pessoas que compareceu às agências da Caixa Econômica para solicitar o auxílio emergencial. Embora não fosse necessário um pacote de dados para fazer a solicitação, foi preciso baixar o aplicativo, e cada aparelho só podia fazer uma inscrição. Em muitas famílias, mais de uma pessoa fez a solicitação, mas nem todas tinham um celular para isso.