Relógios inteligentes são precisos para informar sinais vitais?

Relógios inteligentes são precisos para informar sinais vitais?

Médico esportivo detalha a precisão dos smartwatches para aferir informações de saúde

Os relógios inteligentes estão ganhando cada vez mais espaço na vida das pessoas. Muito além de um dispositivo para responder mensagens, fazer compras e ter um celular – literalmente – sempre próximo à mão, esses relógios prometem, ainda, ajudar na qualidade de vida.

Para isso, esses aparelhos são capazes de monitorar informações de saúde importantes, como batimentos cardíacos, oxigenação do corpo, qualidade do sono, entre tantas outras possibilidades. Mas, afinal, até que ponto essas informações são confiáveis? Será que podemos acreditar totalmente nos dados revelados pelos relógios inteligentes?

Segundo Luis Gustavo Gazoni Martins, chefe do ambulatório de medicina esportiva do HC FMRP-USP, tudo depende. Ele explica que a precisão dos dados informados por esses aparelhos varia muito de acordo com o modelo e com o tipo de informação.

Os relógios inteligentes são geralmente confiáveis para medir dados como frequência cardíaca e qualidade do sono, mas a precisão pode variar dependendo do modelo e da tecnologia utilizada. Para medições de oxigenação, nível de estresse e pressão arterial, a confiabilidade pode ser menor e variar significativamente entre diferentes dispositivos”, aponta.

De forma geral, pesquisas vão de acordo com a posição do médico. Dados apontam que as informações disponibilizadas pelos relógios eletrônicos são, sim, confiáveis, mesmo com limitações.

Não à toa, existe hoje uma série de relatos de pessoas que começaram a olhar com mais cuidado para certos aspectos da própria saúde após perceberem tendências em seus relógios eletrônicos.

Esse foi o caso de Jorge Freire, por exemplo. Ele estava voltando de São Paulo quando recebeu uma notificação de seu smartwatch avisando que seus batimentos cardíacos estavam acima do normal. Jorge checou as informações e, segundo o aparelho, de fato estava com números anormais: com 170 batimentos por minuto, bem acima do normal, que varia entre 50 e 90 bpm.

Sem saber como agir a princípio, a sua primeira reação foi relaxar um pouco, para ver se os números diminuiam. “Fui para casa, deitei e esperei uns 30 minutos para ver se os batimentos voltavam ao normal. Estabilizou em 160 BPM. Ou seja, estava com uma taquicardia”, relatou ele, em uma publicação que viralizou no Facebook.

Ele, então, decidiu correr para o pronto-socorro, onde a informação foi confirmada: ele estava com taquicardia e com uma pressão altíssima. Depois de realizar os devidos exames, Jorge Freire passou em consulta com um médico para entender realmente o que estava acontecendo.

Fato é que a história dele não é única, relógios inteligentes têm ajudado pessoas a acender alertas para possíveis doenças, ajudando em um diagnóstico precoce. O Dr. Luis Gustavo Gazoni Martins confirma essa importância, mas reforça que esses aparelhos não substituem exames de rotina e nem o acompanhamento com o profissional da área.

“Os relógios inteligentes não devem substituir exames de rotina. Eles são úteis para monitoramento contínuo e fornecem dados que podem ajudar a detectar tendências ou anomalias, mas exames de rotina realizados por profissionais de saúde são essenciais para um diagnóstico preciso e completo”, ressalta.

relógio inteligente

Como os relógios inteligentes medem os sinais vitais (Reprodução: Freepik)

Como os dados de saúde são aferidos?

Uma dúvida comum entre os consumidores destes aparelhos é: mas como funciona tudo isso? Afinal, como um aparelho tão pequeno é capaz de ter tantas funcionalidades e, ainda, aferir informações valiosas de saúde? O chefe do ambulatório de medicina esportiva do HC FMRP-USP explica.

Em um papo com a PROTESTE, ele contou que cada dado é aferido de uma forma. “Para aferir a frequência cardíaca, a maioria dos relógios usam sensores de <fotopletismografia (PPG) que emitem luz através da pele e medem as variações na absorção da luz, que correspondem às variações no fluxo sanguíneo”, conta.

Para obter dados sobre a oxigenação do sangue, esses aparelhos utilizam esses mesmos sensores para medir a saturação de oxigênio (SpO2) no sangue, avaliando a quantidade de luz vermelha e infravermelha absorvida pelo sangue.

“O nível de estresse, por sua vez, costuma ser estimado através da variabilidade da frequência cardíaca (HRV), que é a variação no intervalo de tempo entre batimentos cardíacos sucessivos”, conta.

No caso da qualidade de sono, ele explica que os relógios inteligentes costumam usar acelerômetros para detectar movimentos durante a noite. Esses movimentos são somados aos dados relacionados à frequência cardíaca, determinando, assim, as diferentes fases do sono.

O médico explica, ainda, como esses aparelhos trabalham no caso da pressão arterial. “Alguns relógios usam tecnologias PPG e algoritmos complexos para estimar a pressão arterial, mas ainda não são tão precisos quanto os esfigmomanômetros tradicionais”, pontua.

Quais os cuidados necessários com os relógios inteligentes?

Os smartwatches podem ser super úteis para aferir informações sobre nossa saúde, mas, para garantir a qualidade desses dados, é preciso ter uma série de cuidados com os aparelhos.

O médico esportivo ressalta a importância de, na hora da compra, verificar se o dispositivo possui certificações e validações científicas para suas medições. Quando for escolher o seu, uma dica é procurar marcas já conceituadas no mercado, que conseguem garantir a qualidade do aparelho.

A manutenção do relógio também é essencial. “Manter o dispositivo limpo e corretamente posicionado ajuda a garantir medições mais precisas”, reforça.

Por último, é preciso sempre lembrar que esses dispositivos  fornecem estimativas e não substituem equipamentos médicos profissionais. “As medições devem ser usadas como complemento às consultas médicas, não como substituto”, completa Luis Gustavo Gazoni Martins