Intergeracionalidade: o que é, importância e como aplicar na sua empresa
Pensar em ambientes de trabalho que são amigáveis para diferentes gerações é benéfico tanto para o colaborador quanto para a empresa
A longevidade aumentou em praticamente todo o mundo. Um estudo publicado na revista científica Plos One, no início do ano, mostra que no Japão, assim como em países da Europa e da América do Norte, a esperança média de vida já ultrapassa os 80 anos e a perspectiva é de que, em 2030, seja de 83 anos para os homens e 86 para as mulheres.
No Brasil, depois do recuo na pandemia, a expectativa de vida voltou a crescer em 2022, para 75,5 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, uma série de desafios precisam ser superados para garantir uma longevidade saudável e produtiva.
No mercado de trabalho, discute-se um termo novo: a intergeracionalidade. “Essa, talvez, seja a grande novidade que estejamos vivenciando. A intergeracionalidade precisa criar ambientes de troca e aprendizado mútuo entre diferentes gerações, que não necessariamente estejam em níveis hierárquicos distintos nas empresas. A partir do momento em que se vive mais, é preciso se reinventar muitas vezes e recomeçar carreiras, fazer transições no decorrer da vida”, enfatiza Sérgio Serapião, cofundandor e CEO da Labora, startup que tem o propósito de incluir, em escala, pessoas acima de 50 anos no mercado.
Segundo Serapião, a expectativa de vida aumentou, porém as possibilidades de trabalho e renda, especialmente para uma faixa entre 50 e 65 anos, não estão sendo criadas. “Sempre houve organizações com várias gerações. Só que as equipes, a convivência e os ambientes não eram intergeracionais. Havia uma correlação de idade com o nível hierárquico: os mais jovens são a maioria, estão na base de uma pirâmide organizacional; os de meia-idade estão na metade do caminho; e os mais velhos ficam no topo da organização. Ou seja, mesmo uma organização que tenha um volume alto de profissionais mais velhos, não necessariamente é inclusiva de todas as idades e trabalha a intergeracionalidade”, afirma.
Para o executivo, construir a intergeracionalidade desconstrói as posições de trabalho tradicionais feitas para pessoas mais velhas ou para as mais jovens, já que precisam ser flexíveis para as individualidades.
Vantagens da intergeracionalidade
A empresa que trabalhar ambientes intergeracionais terá uma série de benefícios. Essa empresa tende a conseguir tirar o melhor de cada idade, de cada pessoa, nos diferentes momentos que esteja na vida.
Ele explica, ainda, a importância de pensar na escala de trabalho que se adapte a cada fase da vida, para, de fato, criar um ambiente amigável para as diferentes faixas etárias.
“Quando eu paro de ter uma posição que é feita só por um grupo etário, começo a ter a possibilidade de capacidades que outros grupos apresentam e que não estão sendo disponíveis naquela posição. Por exemplo, vendedor de loja é tipicamente uma posição de início de carreira de jovens, um trampolim para outras fases ali da vida. Por isso, é desenhada para eles, seis dias por semana, jornadas longas, seis, sete, oito horas, com bastante desgaste físico. Se você colocar uma pessoa mais velha, ela pode começar a sentir mais esse esforço, porque a posição não foi feita para ser um ambiente intergeracional. A possibilidade de trabalhar quatro horas, em vez de só oito, dois dias na semana, em vez de seis, flexibilizaria a chance de ter pessoas mais velhas”, exemplifica.
Ele explica que trabalhar desta forma gera uma série de benefícios. “Assim, você passaria a ganhar atributos: a juventude pode evidenciar aspectos físicos, alguma agilidade, rapidez. Agora, escuta mais profunda, empatia e a própria fidelidade com a organização são mais característicos de pessoas mais velhas. Se você tiver um mix disso na equipe, ou seja, um time intergeracional, um ambiente intergeracional, uma posição desenhada para intergeracionalidade, vai gerar bastante benefício para a empresa”, detalha.
Dificuldades para os profissionais
Com a longevidade aumentando, vemos cada vez mais a necessidade de pessoas mais velhas se manterem ativas no mercado de trabalho, para conseguir continuar garantindo o sustento próprio. Essas pessoas, no entanto, costumam enfrentar uma série de dificuldades para se manter ou, até mesmo, retornar ao mercado de trabalho.
“Todos somos etaristas, mesmo as pessoas 50+ costumam ser, porque está na nossa cultura, e tem muito pouco letramento sobre isso. Muitas vezes, elas ficam tentando colocar o jovem como um atributo. “Sou um jovem de 60 anos” é uma frase tipicamente etarista muito comum de se escutar. Então, pelo lado do profissional, o etarismo também é mais um obstáculo”, reflete Sérgio Serapião.
Ele ressalta que, além disso, também há alguns déficits, às vezes, técnicos, mas principalmente atitudinais. “É comum as pessoas não perceberem que têm que se renovar nas suas atitudes e no seu entendimento e na sua visão de mundo, já que está mudando muito rápido. Isso acaba sendo um empecilho mesmo que a pessoa tenha todos os pré-requisitos técnicos”, completa.
Justamente por isso, o profissional ressalta a importância da recorrente atualizações dos profissionais. “Se manter sempre atualizado para o mercado de trabalho é necessário por dois motivos: vivemos mais, então temos que estar nos renovando e nos reinventando, até porque as nossas habilidades vão se transformando, assim como os nossos objetivos. A gente precisa estar constantemente se capacitando. O segundo motivo é que temos um outro fenômeno: a tecnologia e a mudança do mercado, das profissões e da forma de se trabalhar, que demanda transformação acelerada e aprendizado. As tecnologias estão mudando tanto que, por vezes, parte do que você sabia fazer muito bem vai acabar substituído por uma máquina. Assim, os ciclos estão cada vez mais curtos: se antes, falava-se de ciclos profissionais de 20, 25 anos; agora, são de cinco, dez anos”, conclui.