DeepSeek: veja como funciona e regras na coleta de dados

DeepSeek: veja como funciona e regras na coleta de dados

A inteligência artificial chinesa sacudiu o mercado da tecnologia em janeiro deste ano; saiba de onde ela vem e qual é a sua influência no monopólio das empresas americanas

2025 chegou com uma surpresa no mercado da tecnologia: em 10 de janeiro, o mundo assistiu a chegada da DeepSeek, uma inteligência artificial que chegou ao mercado da tecnologia para competir diretamente com gigantes do ramo, como Chat GPT e Gemini. Mas afinal, você sabe como funciona a DeepSeek e por que ela se tornou tão importante em tão pouco tempo?

Abaixo te contamos tudo o que você precisa saber sobre essa Inteligência Artificial e os detalhes da sua participação no mercado tecnológico.

Onde surgiu a DeepSeek?

A inteligência artificial DeepSeek foi criada na China, pelo empresário e especialista em finanças e tecnologia Liang Wengfeng, formado em engenharia na Universidade de Zhejiang, em Hangzhou. Por lá, ele se convenceu de que a Inteligência Artificial seria responsável por “mudar o mundo”, conforme declarou em entrevista para o site chinês Waves.

A partir disso, criou a startup DeepSeek, responsável pela criação do robô conversador DeepSeek-R e com sede em Hangzhou, metrópole chinesa que dá espaço para diversos avanços tecnológicos no país. Em 2015, Liang também foi responsável por criar a empresa de investimentos especializada em IA High-Flyer, onde começou suas pesquisas e estudos sobre o mercado tecnológico. Segundo ele, essa foi não só uma maneira de conseguir o dinheiro necessário para investir em sua própria tecnologia, mas também um estudo de mercado para entender os custos dessa produção.

“Nós simplesmente fazemos as coisas em nosso próprio ritmo, calculamos os custos e os preços. Nosso princípio não é subsidiar [o mercado] ou gerar lucros enormes”, explicou Liang durante a entrevista para a Waves.

A estratégia foi bem sucedida: em janeiro, as ações da fabricante de chips Nvidia — terceira empresa mais valiosa dos Estados Unidos — caíram  16% no dia do lançamento da DeepSeek, um prejuízo de US$ 500 milhões (o equivalente a R$ 29 trilhões). Além dela, empresas como Microsoft e Google também registraram quedas nas ações de mais de 10%.

Cálculos divulgados pela revista americana Financial Times estimaram que a perda total das empresas de tecnologias com a chegada desta nova IA atingiram a marca de US$ 1 trilhão (R$ 5,9 trilhões) em valor de mercado.

Os impactos no mercado da tecnologia vão além da novidade da IA, já que pesquisadores e cientistas do mundo todo testaram a plataforma e tiraram suas conclusões sobre os custos-benefícios da DeepSeek.

Por que a DeepSeek é tão famosa?

Para entender a relevância do DeepSeek no mercado da tecnologia, é importante entender como ela funciona.

O DeepSeek é um aplicativo de inteligência artificial ‘generativa’ — mesmo formato de espaços como Gemini e ChatGPT. Esses aplicativos são conhecidos como chatbots — em português, robôs de conversação — por fornecerem as informações requeridas em formato de conversa com o usuário. 

Além de fornecer dados coletados em diversas fontes de informação, essas IAs também podem exercer tarefas de maneira semelhante ao cérebro humano — como redigir textos sobre uma diversidade de assuntos; organizar roteiros de viagens; produzir uma lista de compras; traduzir arquivos; etc.

Uma tecnologia tão complexa como essa demanda a construção de sistemas também complexos que, até então, tiveram um custo enorme: as principais concorrentes da DeepSeek já especificaram que as produções de suas IAS custaram mais de US$ 10 milhões — a OpenIA, empresa criadora do ChatGPT, constatou que a criação da plataforma chegou a US$ 60 milhões. Contudo, os pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento e treinamento da DeepSeek informaram que esse processo custou apenas US$ 6 milhões, de acordo com informações da BBC.

Além de custos operacionais, as ferramentas de construção da DeepSeek também se mostram mais acessíveis: a IA é alimentada pelo DeepSeek-V3, um modelo de software que pode ser usado, modificado ou distribuído gratuitamente por qualquer pessoa.

Por causa disso, a chegada do DeepSeek no mercado das inteligências artificiais gera preocupação. Isso porque a ascensão de uma tecnologia de ponta com um custo de produção mais barato acontece em meio a um embargo econômico dos Estados Unidos, que restringiu a venda de chips avançados necessários para o desenvolvimento da IA para a China. Nesse cenário, chineses se reuniram para produzir uma tecnologia com materiais locais e novas abordagens mais baratas que podem ameaçar a influência estadunidense no cenário da tecnologia.

Mulher mexendo no computador

Entenda como a DeepSeek coleta os seus dados (Foto: Freepik)

Como a DeepSeek coleta dados?

Quando se trata do uso e funcionamento de todas as IAs — não só a DeepSeek — pesquisadores ressaltam que existe uma coleta de informações dos usuários. De acordo com os termos de uso dessas plataformas, isso acontece pois esses dados servem como refinamento das buscas da plataforma, que está constantemente agregando novos conjuntos de dados para retreinamento e refinamento da linguagem. Mas, afinal, onde esses dados são coletados e o que ferramentas como a DeepSeek podem fazer com eles?

Existem algumas maneiras que plataformas de Inteligência Artificial podem coletar informações dos usuários. São elas:

  • Cadastro: tanto o DeepSeek quanto outras IAs exigem que o usuário crie um login de acesso para o uso da plataforma. Dentro dele, são requeridos dados como nome completo, email, data de nascimento e outras informações, a depender do site. Esses dados ficam armazenados na nuvem dos aplicativos;
  • Sessões de suporte: se você acionar o suporte para qualquer tipo de problema enfrentado durante o uso da DeepSeek, os dados que você forneceu ao técnico da plataforma online também são coletados. Caso o problema seja referente ao cadastro, informações como login e senha também são armazenados.

O uso da DeepSeek conta com ferramentas automatizadas que também coletam os seus dados — a partir de autorizações concedidas pelo próprio usuário dentro do aplicativo. Essas informações são usadas por metadados, que melhoram a capacidade de traçar perfis e respostas mais precisas para quem está usando a IA. Esses protocolos são especificados nos Termos de Privacidade da DeepSeek, e os dados coletados dentro deles são:

  • Informações técnicas sobre o modelo do aparelho que está sendo utilizado para realizar a busca; esses dados incluem: marca, modelo, sistema operacional, idioma, localização, padrões e ritmo de digitação, IP, DNS, e outros protocolos. Além disso, relatórios de erro, crashes e outros bugs também operam desta mesma maneira;
  • Padrões de uso, como padrões de texto, padrões de pesquisa, transcrição e resumos de artigos, etc.;
  • Cookies, a DeepSeek utiliza Cookies para rastrear informações de atividade do usuário em outras plataformas e assim entender as suas preferências;
  • Informações de pagamento; caso o usuário realize alguma transação financeira dentro da plataforma, os históricos de transações e eventuais interações no pós-venda também são guardadas pelo site;
  • Interações com plataformas parceiras também são coletadas pela DeepSeek. A IA tem parceria com plataformas como Google e App Store e, assim sendo, qualquer interação do usuário com esses espaços fica guardada na nuvem.

Como a lei protege o consumidor?

Os dados ficam armazenados nessas plataformas, contudo, existe uma obrigatoriedade das IAs para com esses dados. No Brasil, opera desde setembro de 2020 a Lei Geral de Proteção de Dados, que tem o compromisso de definir regras para coleta, tratamento, armazenamento e compartilhamento de dados pessoais online — tanto por parte dos usuários, quanto por parte das empresas.

Márcio Stival, advogado especialista em Direito Digital e Internet, conversou com a Proteste e esclareceu que, mesmo que a LGPD ainda seja recente e necessite de revisões, ela é garantia de uma navegação mais segura e privativa online.

“Os usuários têm o direito de saber como seus dados são coletados, armazenados e utilizados. A LGPD garante direitos como acesso, correção, anonimização, portabilidade e exclusão de dados. No contexto da IA, um dos principais desafios é garantir a transparência dos processos automatizados e oferecer mecanismos eficazes para que os titulares possam exercer seus direitos”, explica o advogado.

Márcio afirma ainda que as IAs — tanto a DeepSeek quanto outras — tem como compromisso a minimização de armazenamento de dados: “A LGPD se aplica integralmente a sistemas de IA que tratam dados pessoais, exigindo que as empresas tenham bases legais adequadas para a coleta e uso dessas informações. Por isso, a lei impõe princípios como a necessidade, transparência e segurança, o que significa que sistemas de IA devem ser projetados para minimizar a coleta de dados e garantir medidas técnicas e organizacionais para protegê-los contra acessos indevidos”.

Aliás, segundo o especialista, o uso indevido dessas práticas pode levar a sanções por parte das empresas — majoritariamente responsáveis pela proteção dos dados de seus usuários e pelo cumprimento da LGPD:

“Geralmente, a empresa que utiliza a IA é a principal responsável pelo cumprimento da LGPD, pois é quem define a finalidade e a forma de tratamento dos dados. No entanto, o desenvolvedor da IA pode ser corresponsável se houver falhas no sistema que levem a violações. O usuário, por sua vez, raramente terá responsabilidade, a menos que tenha contribuído diretamente para a exposição dos dados”, explica Márcio. “As penalidades variam de advertências e multas (que podem chegar a 2% do faturamento da empresa, limitadas a R$ 50 milhões por infração) até a proibição do tratamento de dados. Além disso, empresas que violam normas de privacidade podem sofrer danos reputacionais e ações judiciais movidas por titulares de dados afetados”.

Para além da proteção contra o vazamento de dados em Inteligências Artificiais, a LGPD também garante ao usuário o direito de contestar informações dadas pela plataforma — e até mesmo exigir a revisão de um ser humano — conforme também explica Márcio: “A LGPD assegura o direito de revisão de decisões automatizadas que impactem os usuários. Isso significa que um titular pode solicitar explicações sobre uma decisão tomada por IA e exigir a revisão por um ser humano. As empresas precisam garantir a transparência desses processos e fornecer mecanismos para que os usuários possam contestar decisões que considerem injustas ou equivocadas”.

As inteligências artificiais vieram para ficar — e se diversificar

Segundo informações da BBC, o DeepSeek acumulou 225 milhões de usuários ativos no mundo todo no seu primeiro mês de vida. Na semana de seu lançamento, em janeiro, foi o aplicativo mais baixado dos Estados Unidos. A inteligência artificial ficou tão popular em tão pouco tempo que a plataforma precisou restringir o cadastro de usuários, já que muitos deles estavam tentando atacar o software interno da DeepSeek.

Que as inteligências artificiais vieram para ficar, você já sabe. Contudo, vale relembrar que existe uma infinidade de modelos e formatos disponíveis no mercado que vão além da DeepSeek. Conheça algumas delas:

  • Chat GPT: uma das inteligências artificiais mais famosas do mercado; foi fundada pela empresa de pesquisas em tecnologias Open AI, do empresário multimilionário Elon Musk. Possui um formato de funcionamento semelhante ao da DeepSeek, com um banco de dados que seleciona as informações requeridas pelo usuário através de chatbots;
  • Chat Sonic: está sendo considerada uma das melhores “alternativas gratuitas ao ChatGPT” pelos especialistas. É capaz de exercer funções semelhantes às do ChatGPT e do DeepSeek, com o adendo de geração de imagens a partir de descrições textuais e aprendizado atualizado, com bancos de dados atualizados a partir do Google;
  • Jasper Chat: a ferramenta se destaca por fornecer chats mais humanizados e funções que otimizam a criação e geração de conteúdo para empresas e publicidade, como aprimoramento de conteúdo para redes sociais, roteiros audiovisuais, artigos com otimização para ferramentas de busca (SEO), revisão de textos e mais. Seu plano básico custa a partir de US$ 39 por mês;
  • Gemini: esta é a inteligência artificial desenvolvida pelo Google. Ganhou destaque no mercado por se alimentar com informações e softwares da empresa e exerce funções semelhantes às de outras tecnologias generativas.
  • Perplexity: esta IA se destaca por ir além das informações requeridas pelos usuários, mostrando também a fonte da pesquisa e incluindo recomendações de textos suporte para as informações fornecidas. Além disso, ao final das suas respostas, sugere também mais uma lista de perguntas sobre o tema pesquisado.