Conheça as novas tecnologias aliadas da telemedicina

Conheça as novas tecnologias aliadas da telemedicina

Desde o início da pandemia, algumas tecnologias que, em tese, prometem que os usuários detectem doenças ou alterações ganharam destaque; mas, será que esses equipamentos de fato funcionam?

Alguns acessórios, como relógios e pulseiras (smartwatches e smartbands) têm funções como monitoramento do sono, batimentos cardíacos e até contam com oxímetros ou com a função de eletrocardiograma. Embora alguns não sejam assim tão recentes (como o monitor de batimentos), os equipamentos ganharam destaque especialmente durante a pandemia do novo coronavírus, por, supostamente, serem tecnologias aliadas da telemedicina

No entanto, apesar de toda a inovação, a comunidade médica ainda vê tais produtos com reserva. “Equipamentos para uso médico dependem de regulação e precisam atender normas técnicas, de modo que a acurácia dos indicadores e métricas sustentem a decisão médica com segurança ao paciente. No Brasil, eles precisam ter aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E, mesmo que aprovados, a comunidade científica deve referendar seu uso, através da comprovação por estudos que demonstrem a evidência científica do uso eficaz na assistência médica”, explicou o médico cardiologista Boaz Avellar Jr. 

Boaz, que faz parte da Câmara Técnica de Informática Médica e Telemedicina do CREMERJ (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) e está desenvolvendo um sistema de apoio à decisão médica, usando Telemedicina e Inteligência Artificial, diz recear que o uso desses equipamentos, pelos pacientes, possa comprometer a identificação de sintomas. 

“Como cardiologista e interessado em tecnologias da informação e comunicação em saúde (TICs), posso afirmar que é mais fácil um paciente perceber ‘palpitações no peito’ originárias de arritmia cardíaca e, com isso,  procurar ajuda de serviços de saúde, do que receber um alarme do smartwatch, que não obedece regras de informática médica e telemedicina”, ponderou. 

Equipamentos não substituem medidores usados por serviços de saúde

“Esses equipamentos não são feitos para substituir os equipamentos médicos, exames ou qualquer coisa do tipo”, concordou Thiago Porto, especialista da PROTESTE. “A ideia principal é somente fornecer informações adicionais para o usuário. Por isso, eles foram aceitos por órgãos de saúde norte-americanos e, aqui no Brasil, pela Anvisa”, disse.

equipamento saude
De acordo com Thiago, a maioria dos equipamentos possui somente o detector de batimentos cardíacos. “O oxímetro está, cada vez mais, aparecendo nos aparelhos. Atualmente já existe uma opção de smartwatch liberada pela Anvisa, com a função de eletrocardiograma, que é o Apple Watch. Também já há um aparelho da Samsung no mercado com essa opção, mas ainda precisa ser liberado pelo órgão regulador”, destacou.

Na visão do especialista, os aparelhos de saúde estão cada vez mais presentes no mercado e poderão, no futuro, se tornarem instrumentos para ajudar os médicos na tomada de decisão, principalmente por acompanharem o usuário na sua rotina. Além disso, já existem relatos que mostram que esses dispositivos ajudam os pacientes a detectarem anomalias ou outros problemas, como irregularidades nos batimentos cardíacos ou mesmo acidentes.

“Hoje, já temos relatos de vidas salvas pelo uso de smartwatchs. Isso deverá acontecer mais vezes, quando, no futuro, a tecnologia madurecer e permitir que os usuários tenham acesso a dados mais assertivos sobre a saúde”, frisou Thiago.

Telemedicina demandará equipamentos de alta precisão

No entanto, na avaliação de Boaz, tais ferramentas ainda carecem de comprovação científica e acurácia. Segundo o cardiologista, a medicina de precisão, com tratamentos personalizados, já é uma realidade com os testes genéticos, assim como o conceito de Internet das Coisas (IoT), aplicado à saúde. “A nanomedicina também progride de modo acelerado”, destacou.

 “Creio que equipamentos médicos, por IoT, em curtíssimo espaço de tempo terão evolução, de modo a se configurarem como efetivos”, ressaltou. Já os aparelhos utilizados pelos pacientes, pela falta de precisão, podem induzir a erro.

Um exemplo disso é o pedômetro, disponível em celulares, smartwatches e smartbands, que estima a quantidade de passos dados pelo movimento do braço – ou seja, o resultado não necessariamente espelhará o que o usuário realmente andou. Os monitores de sono, por sua vez, consideram não apenas os movimentos, mas também a frequência cardíaca, que tende a se reduzir enquanto a pessoa dorme. No entanto, a medição não é precisa e não substitui um equipamento médico. 

Ou seja, os aparelhos não devem ser usados para substituírem uma avaliação médica ou exames laboratoriais. “De fato, os equipamentos não devem ser usados como forma de diagnóstico; a ideia é permitir que o usuário identifique um possível problema. São dispositivos auxiliares que, se bem utilizados, contribuem para que os pacientes busquem ajuda médica em caso de necessidade”, pontuou Thiago. “Esses equipamentos servem para dar indícios, que podem ajudar os médicos no processo de acompanhamento e detecção de problemas”, completou.

telemedicina
Descubra quais tecnologias são aliadas da telemedicina

Segundo Boaz, o sistema de troca de mensagens com informações de saúde deve obedecer critérios de segurança da informação. “A duas partes precisam estar devidamente identificadas, ou seja, o paciente usuário do sistema deverá provar que ele é quem diz ser. Do outro lado,  o profissional de saúde, quando emitir um documento médico de ‘Fé Pública’, também deverá se identificar, no caso do médico, com mais rigor, através de um Certificado Digital”, disse.

Isso vale para receitas médicas controladas e atestados, por exemplo, quanto solicitados por recursos de telemedicina. “Uma receita médica copiada e colada no WhatsApp ou impressa não é um documento válido”, alertou.

O especialista ainda destacou que as consultas médicas (por telemedicina) podem e devem ser gravadas, pois passarão a integrar o prontuário médico do paciente. “A telemedicina é um recurso tecnológico de assistência à saúde, com normas técnicas a serem seguidas. Portanto, as plataformas utilizadas devem garantir a segurança da comunicação de ponta a ponta, entre consultor e consultado, do início ao fim da troca de mensagens, por qualquer que seja o recurso de telecomunicação”, explicou. 

De acordo com Boaz, as informações capturadas precisam ser processadas e armazenadas de forma a garantir a integridade e confidencialidade. “É importante que fiquem disponíveis aos pacientes e a quem o acesso for delegado, desde que atenda às normas do Conselho Federal de Medicina. É preciso, ainda, garantir armazenamento de informações em duplicidade e com cópia para o próprio paciente”, completou.

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